Simm

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sábado, 10 de março de 2012

Diamante Negro

Pensando cá comigo e relembrando os últimos acontecimentos pensei. Oras, sou filho de um pai negro, de uma mãe com traços indígenas levemente fortes, com certeza não sou branco! E nem queria sê-lo. Deus é mais e me tira dessa.
Outro dia estava no corredor de uma faculdade onde encontrei um colega de curso, apenas um mero colega, aqueles que desfrutamos apenas do coleguismo e mais nada, até por que o sujeito não se dá muito com coisas simples como cultivo de uma possível amizade verdadeira. Como ele mesmo faz questão de dizer: “Eu gosto é do dinheiro mesmo, eu gosto é do poder. Eu sou fascista. Meu negócio é empreender”. Eu diria melhor, não, você é um imbecil mesmo. Acho que calharia melhor em seu currículo. Vê-se claramente no jovem mancebo o tilintar das anteninhas. Isso quando pinta alguma oportunidade boa. Tá certo, cada um pensa da forma que quiser não é mesmo? Não sou eu quem vai dizer a ele o que ele deve fazer ou não, a menos que me peça opinião eu não direi uma só palavra. O silêncio mata. Assim como as palavras também. Seus dois olhos brilham com uma luz forte, perigosa até, e passa um pente fino em ti da cabeça aos pés. Claro que o instante foi rápido, mas deu pra sentir o feeling do olhar. Então interpela: “Cara, você é moreno né? Você tem a pele escura, bem escura”.  Achei a pergunta tão idiota que respondi na bucha: “claro que não sou branco. Meu pai é negro, minha mãe é quase uma índia, muito linda por sinal”. Senti que o jovem mancebo ficou meio sem jeito, mas continuava repetindo algumas frases assim meio confusas de um tanto porque eu nem estava ali na hora, minha mente estaria num tópico intrigante de um projeto que estava escrevendo, portanto não me importei com aquilo naquele momento e a conversa acabou nem sei como, tem hora que me sinto mecânico, e isso me salva várias vezes. Dou bom dia, bom dia, boa tarde, boa tarde, tudo ótimo, tudo bem, tá fazendo calor, choveu muito em Minas Gerais, e assim vai, com exceção de alguns papos bem interessantes (mas isso é bem às vezes) quase sempre estou com os leprosos. Risos. Depois passou o tempo e de repente me chegou à cabeça esse episódio, sei lá por que cargas d’água, vai ver foi por que lá no meu inconsciente estaria eu incomodado de não ser branco, affe, que merda seria se isso fosse verdade. Lembrei rapidamente de várias coisinhas sobre esse assunto tão chato por vezes que é a questão da cor. Chico Buarque de Holanda é pai de Silvia Buarque, atriz amiga de Bebel Gilberto e casada com o compositor Carlinhos Brown. Chico numa entrevista conta um episódio dessa natureza, conta que Silvia e Carlinhos tiveram que se mudar do condomínio em que residiam por causa das perseguições dos vizinhos. Ele conta que chegou a tal ponto a situação que xingavam Carlinhos quando este saía do elevador e assim por diante, insultos de toda maneira, o camarada já tá até calejado de tanto preconceito. Conta Chico que sua filha Silva achou que deveriam se mudar, e assim o fizeram.

O caso deu até jornal. Chico se lembra de uma ocasião em que estava num café no Rio de Janeiro e duas senhoras de cabelos amarelos urravam horrores na mesa ao lado dizendo: “Porque eu sou BRANCA! Eu sou branca! Não gosto de preto”. Chico ri e pensa consigo mesmo: “Será que essa senhora não vê que ela não é branca? Ela não é branca! Ninguém no Brasil é branco, é muito difícil se achar um branco verdadeiramente no Brasil. Ainda mais no Brasil que é um país totalmente miscigenado. Será que aquela criatura não percebe que ela tem os cabelos amarelos, e que corre em suas veias sangue escravo?! Quanta ignorância. Ela tem a pele branca, sim lá isso é verdade, mas ela não é branca”. Então recordei de um vídeo muito engraçado que era uma paródia de uma música dos Racionais que dizia assim: ‘O mundo inteiro é preto, um milhão e oitenta e cinco mil pessoas no Brasil são pretas, Oswaldo Montenegro, Fernanda Montenegro, Diamante Negro’.  

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